Ematerce promove capacitação para controle de abelhas pelos bombeiros

16 de outubro de 2019 - 22:41 # #

Ascom / Aécio Santiago - aecio.santiago@ematerce.ce.gov.br fotos: Aécio Santiago

Com o problema de mortes de milhares de abelhas no Estado do Ceará, a Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) promove de 16 a 18 de outubro, na sede da 6ª Companhia do 3º Batalhão – Seção Canindé do Corpo de Bombeiros, um curso de capacitação para o controle e manejo dos animais, que geralmente eram exterminados pelos bombeiros ao invés de capturados.

Segundo dados da Câmara Temática do Mel, cerca de 80 milhões de abelhas foram mortas no Ceará nos últimos meses. O presidente da câmara temática da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará) informa que a entidade já trabalha numa solução para minimizar o problema e a Ematerce já iniciou um curso na manhã desta quarta-feira, no quartel do Corpo de Bombeiros no município de Canindé.

A abertura da capacitação, na manha desta quarta-feira (16), contou com a presença do presidente da Ematerce Antônio Amorim e do técnico agrícola Francisco Teixeira Filho (Chico Filho), responsável pelo treinamento no total de 24 horas, que vai capacitar integrantes do Corpo de Bombeiros lotados naquele município, prestadores de serviço da Enel, profissionais da Guarda Municipal.

Um dos principais objetivos do curso, de acordo com o tenente Erasmo Costa, comandante adjunto do Corpo de Bombeiros em Canindé, é mudar a prática de exterminação das abelhas quando é realizado o atendimento de uma ocorrência de presença de enxames em edifícios, postes, residências ou estabelecimentos comerciais.

“Realmente estamos preocupados com esses números de mortandade e vimos que é urgente mudar essa atitude para não afetar tanto o meio ambiente”, falou o comandante adjunto, admitindo que os bombeiros já chegaram a realizar o extermínio de sete enxames num único dia.

Para o presidente da Ematerce Antônio Amorim, as altas ocorrências de mortes de abelhas é um sinal de alerta grave, porque os animais são responsáveis pela polinização de dezenas de plantas, reflorestamento, além da produção de vários derivados do mel como o pólen, o própolis e a toxina usada na indústria farmacêutica, que chega a ser comercializada por R$60 o quilo do produto enquanto o própolis pode ser vendido a R$300 o quilo.

“Uma recente pesquisa feita no mel produzido no Brasil detectou a presença de 175 tipos de plantas diferentes. Então, a presença desse animal é fundamental para a saúde das florestas, matas e plantas, oferecendo alimento, trabalho e renda para o produtor que souber identificar e explorar seu potencial de forma certa”, destacou Amorim. O veterinário da Ematerce Crisanto Alves, assessor especial de Apicultura da empresa, também participou da aula inaugural.

Controle

Para o técnico Chico Filho, especialista na produção de mel e manejo de abelhas, a expectativa é sensibilizar e treinar os profissionais que são os primeiros a ter contato com uma ocorrência pra conter um enxame e, através desse conhecimento, estimular potenciais apicultores. A morte de milhares abelhas em várias partes do Brasil e do mundo tem causado muita preocupação entre especialistas, ambientalistas e produtores.

O técnico informa que o procedimento correto da população, ao se deparar com algum enxame, é isolar o locar, não se aproximar e ligar para os bombeiros ou para órgão ambiental como o Ibama ou de assistência técnica rural como a Ematerce ou mesmo a Secretaria do Desenvolvimento Agrário.

Tragédia ambiental e alimentar

As abelhas são as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor em flor, elas polinizam e promovem a reprodução de diversas espécies de plantas. No Brasil, das 141 espécies de plantas cultivadas para alimentação humana e produção animal, cerca de 60% dependem em certo grau da polinização deste inseto.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas. Em regiões como o semiárido nordestino, a migração de abelhas para áreas mais habitadas com as grandes cidades se deve a presença de menos água por conta da estiagem nesses municípios, que vai de setembro a novembro no sertão. Além do extermínio, as abelhas ainda vêm sofrendo, nos últimos anos, com o uso indiscriminado de agrotóxicos que contribuído com altos índices de mortandade.

Agrotóxicos

Os principais inimigos das abelhas são os agrotóxicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o Tiametoxam. A diferença para outros venenos é que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na semente, e tudo acaba com vestígios: flores, ramos, raízes e até no néctar e pólen. Eles são usados em diversas culturas como de algodão, milho, soja, arroz e batata.

Além dos neonicotinoides, há casos de mortandade relacionados também ao uso de agrotóxicos à base de Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos insetos e, além de utilizado contra pragas em culturas como maçã, soja e girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais domésticos. (Fonte: revista Exame)