Polinizadores em perigo: nossas abelhas sem-ferrão

19 de setembro de 2012 - 03:00

O cientista Albert Einstein, disse: “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana”.

 

Na Ibiapaba, nestes tempos secos, andando pelo sertão e carrasco, desertos, e pela serra, pelada, fico pensando, que mecanismos e estratégias mágicas devem ter as espécies animais e vegetais que conseguem atravessar um período prolongado de seca, como este.

 

Certo que, hoje, não há mais o absurdo de vidas humanas perdidas por fome e sede, graças ao encurtamento das distâncias e à rapidez da comunicação. Mas, nossa base de sustentação, os ecossistemas, estão empobrecidos e debilitados. Nessa natureza desgastada, não sei como, insistem em existir, as abelhas sem ferrão, as abelhas brasileiras, nossos legítimos agentes polinizadores, já que coevoluiram com a vegetação local. No Brasil, eram as únicas produtoras de mel, antes da introdução das abelhas europeias, e posteriormente, das africanas.

 

As abelhas sem ferrão, são responsáveis por 30 a 90% da polinização de plantas nativas e comerciais, dependendo do ecossistema. As Jandairas, Uruçus, Mosquitos, Manduris, Canudos, Moças Brancas, Tubibas, e tantas outras, estão precisando de ajuda. Já está difícil encontrar árvores de bom diâmetro, ocas, para estabelecerem seus ninhos. O fogo dos roçados, a fome dos fogões a lenha,   das olarias, das marcenarias, das padarias, das carvoarias e de outras rias, é insaciável e fora de controle.

 

Para se ter uma idéia, de janeiro a agosto de 2012, no Brasil, já tinham pegado fogo, 300 mil hectares de vegetação nativa, em áreas preservadas, isto é, sob a tutela do Estado. E no restante?  Estimando, por muito baixo, por se tratar de áreas preservadas, a existência de 10 colônias de abelhas sem ferrão, por hectare, são 3 milhões de colônias dizimadas.  Estimando, por mais baixo ainda, uma população média de 1000 abelhas por colônia, são 3 bilhões de polinizadores que deixaram de existir. Quanto isso vai nos custar, mesmo em termos econômicos? Felizmente, a herança dos povos indígenas e a memória de nossos antepassados, nos legaram os modos de criar  algumas espécies de abelhas sem ferrão.

 

As pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas, com as abelhas sem ferrão, oferecem uma base segura de informações  para o manejo e a  criação racional de muitas espécies. Encontrei agricultores familiares que mantem colônias de Uruçu Amarela, em caixas rústicas , há mais de 40 anos.
Imagine se esses agricultores pudessem fazer uso desimpedido dos novos conhecimentos sobre a criação racional de abelhas sem ferrão, manejando e multiplicando  enxames, organizando sua criação em meliponários (local aonde as caixas com abelhas sem ferrão são instaladas)!
Imagine estes produtores trabalhando com suas esposas, filhos e netos no manejo das abelhas nativas, pois elas não ferroam!

 

Imagine essas famílias complementando a renda com o mel, a cera, o polem e a venda de colônias! Imagine esses produtores mudando a lógica colonial de exploração agrícola, reconhecendo a interdependência  das abelhas com as plantas e as colheitas, conduzindo suas práticas dentro dos princípios agroecológicos! Imagine essas famílias tendo reconhecimento da sociedade pelo trabalho honroso de  colaborarem na reconstrução  do ambiente natural, multiplicando a biodiversidade!

 

Mas… Em 2004, o CONAMA publicou a Resolução 346, que enquadra as abelhas sem ferrão na mesma categoria de qualquer animal silvestre, como a paca, a cotia ou o preá, e como tal, sua criação  está sujeita a uma série de exigências. Na verdade, um enxame de abelhas nativas, com a rainha, as operárias e os zangões, funciona como um organismo só, e sempre terá vida livre, mesmo alojados em caixas racionais e protegidos em meliponários. O meliponicultor (produtor que cria abelhas nativas) que mantenha menos de 50 colônias de abelhas sem ferrão, fica dispensado de licenciamento, mas tem que se cadastrar, via internet (que ele não tem acesso), no Cadastro Técnico Federal, no site do IBAMA;   tem que comprovar a origem dos enxames (como, de exames já criados há décadas?), que não podem ser retirados da natureza, mesmo em uma operação de salvamento em área que será destruída , sem antes conseguir uma autorização do IBAMA;   e outras exigências mais, que confundem a gente. Em 20 de fevereiro de 2008, veio a Instrução Normativa 169, que não mudou muita coisa.

 

Em 8 de dezembro de 2011, a Lei Complementar 140, delega aos Estados e Municípios as atribuições da União (IBAMA), relacionadas à fauna e a flora. Até que o Estado ou o Município se estruturem para exercer as novas atribuições, a situação fica mais confusa ainda.  À SEMACE e ao COEMA , junto com os meliponicultores cearenses fica o destino de nossas abelhas sem ferrão.
Aí o caboclo diz, “é muita democracia” (é como chamam a burocracia).

F.A.Macambira
Extensionista
EMATERCE – IBIAPABA

 

 

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