SÉRIE METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS / EXTENSÃO RURAL

20 de setembro de 2013 - 03:00

 

 

 

 

Resumo Histórico (A Evolução da Ater )

 

Nas décadas de 60 e 70, os enfoques de desenvolvimento rural  respaldavam-se  na transferência de tecnologias(difusionismo) e na ausência da participação dos beneficiários, tanto na elaboração quanto na execução dos projetos.
 

Com a mudança do foco para  Agricultura Familiar, em meados dos anos 60, a Ater(Assistência Técnica e Extensão Rural) passou a priorizar a participação dos agricultores, na elaboração e execução dos projetos, com o uso de METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS, em que  o papel do técnico não é mais o de convencer o agricultor, mas o de vencer, com ele, construindo juntos novas opções de procedimentos.

 

Informe  05  -A  ESTRATÉGIA DE ATER  PARA    AGRICULTURA  FAMILIAR (continuação)  

Fundamentos : A APROPRIAÇÃO DE TECNOLOGIAS PELOS AGRICULTORES FAMILIARES

 

Como já vimos, o  papel educativo da Ater está apoiado em 4 grandes vertentes, quais sejam: o apoio à organização e à gestão dos agricultores; a apropriação de tecnologias  pelos agricultoresno âmbito econômico, social e ambiental;a facilitação  do acesso às políticas públicas e a integração com a pesquisa, visando  encontrar  soluções para os problemas detectados  pelos agricultores e extensionistas.

 

No que diz respeito à atividade apropriação de tecnologias pelos agricultores familiares, sabemos que, para realizar o desenvolvimento rural sustentável é necessário construir novas práticas e comportamentos, por meio do processo educativo da Ater , via capacitação dos produtores rurais. São os agricultores familiares, com sua capacidade de mudar e de assumir a responsabilidade pelo seu  próprio desenvolvimento,que determinarão  o êxito ou o fracasso de suas atividades.

 

Não se deve desconhecer,todavia, que existe uma carência muito grande de opções tecnológicas, adequadas às condições socioeconômicas dos agricultores familiares, fazendo com que os mesmos subsistam à custa de métodos de produção agropecuária , extremamente, ineficientes. Isto é plenamente justificável vez que as pesquisas desenvolvidas, geralmente, não têm levado em consideração os sistemas de produção, adotados pelos agricultores familiares, ofertando, apenas, tecnologias por produto, que sugerem o uso intensivo de insumos modernos e de capital, bens de acesso limitado ao agricultor familiar e que descaracterizam suas formas de exploração, em que predominam pouco uso de insumos e a utilização da mão de obra familiar. Urge a  intensificação da articulação pesquisa-extensão rural, para minimizar o problema, encontrando soluções alternativas.

 

Outro agravante é a falta de  compreensão do funcionamento dos mercados, que impõe articulação com os segmentos pré e pós-porteira, novas formas de negociação e   práticas de gestão do processo produtivo. O fato é que uma parte significativa dos agricultores familiares ignora a evolução do mercado e as alterações, nos hábitos de consumo, olhando apenas a sua atividade, como se ela estivesse desvinculada dos demais segmentos da cadeia produtiva, ou dos próprios hábitos dos consumidores.

 

Por intermédio do atendimento sistematizado, (abordado no informativo 03), os extensionistas,com os grupos de agricultores assistidos,farão o diagnóstico participativo dos problemas, oportunidade em que debaterão e implementarão as soluções participativas, quando despontarão as tecnologias mais adequadas à realidade daqueles agricultores(passos IV a VIII do atendimento sistematizado de Ater).Deverão ser tecnologias simples e baseadas nos próprios sistemas de produção dos agricultores, priorizando os recursos locais e nativos. No informativo 04, enfatizamos o apoio à gestão e à organização dos agricultores, enfatizando o abandono do individualismo, a aquisição e utilização conjunta de máquinas e equipamentos agrícolas, a compra conjunta de insumos e comercialização das colheitas, evitando a intermediação e a venda da produção sem valor agregado.

 

As tecnologias priorizadas  constituirão o foco das capacitações, teóricas e práticas, ministradas aos agricultores componentes dos grupos assistidos.
O objetivo a ser perseguido é o desenvolvimento de uma Agricultura ambientalmente sustentável, produtiva e rentável.

Os Instrumentos Metodológicos

Os instrumentos metodológicos(U.O, D.R e U.D), são ferramentas de alcance a grupos, de suma importância para   Ater, pois,  por intermédio delas, são testadas e difundidas tecnologias econômica e socialmente viáveis, diminuindo os riscos dos agricultores.

A Unidade de Observação(U.O)

 

Possibilita que os grupos de agricultores(as) testem, nas condições geográficas locais, tecnologias e conhecimentos que apresentaram bons resultados em outras localidades e que serão úteis no solucionamento de problemas locais.

 

As tecnologias, a serem trabalhadas na U.O, só deverão ser definidas e implantadas,  quando o grupo já tiver a percepção de que as mesmas poderão constituir em solução  para    problemas já sentidos pelos agricultores(as). Tal percepção somente será interiorizada, na consciência dos agricultores(as), após um trabalho prévio da Ater(atendimento sistematizado), realizado no dia-a-dia da programação do extensionista. Constituído por uma única parcela(tecnologia em observação), de dimensões restritas(área, número de cabeças,etc.), os resultados obtidos são comparados com o histórico dos resultados de produtividade das tecnologias locais, sendo estendidos ao uso local, em função da relação benefício/custo apresentada.

 

O colaborador e o grupo, responsáveis pela condução da unidade, deverão estar sensibilizados,comprometidos e ansiosos pela pela busca dos bons resultados econômicos e sociais que o instrumento poderá gerar, em benefício de todos. Como os resultados da unidade encontram-se em fase de comprovação, o acompanhamento deverá ficar restrito ao grupo envolvido em sua instalação.  A unidade de observação também  desempenha preponderante papel, no que diz respeito à familiarização( teórica e prática) dos extensionistas e agricultores com o uso das novas tecnologias e práticas, objeto do instrumento. A seleção dos colaboradores(agricultores), áreas , lotes e definição das tecnologias, a serem testadas, deverão ser executadas em comum acordo entre extensionistas e grupo de agricultores asssitidos.

 

A aquisição dos insumos, com recursos públicos, poderá comprometer os resultados esperados , em face a liberação tardia dos recursos, razão pela qual esse impasse deverá ser evitado, contemplando as aquisições como contrapartida da comunidade(já motivada e interessada), ou via outras fontes de recursos mais seguras. As despesas e receitas da unidade de observação deverão ser convenientemente controladas e  registradas, possibilitando uma  análise eficiente de benefício / custo.  A definição das tecnologias, objeto das unidades de observação, deverá ser feita no dia-a-dia das atividades dos extensionistas, por intermédio dos diagnósticos participativos,devendo constar na programação do escritório da Ater e dos  agricultores(PAC).

 

A Demonstração de Resultados(D.R)

 

Trata-se de um instrumento que facilita a apropriação de novos conhecimentos pelos diversos grupos de agricultores(as), cujos resultados são divulgados para outros grupos, por intermédio do uso de diversos métodos, empregados pela Ater(visitas, reuniões, excursões, dias-de-campo etc.).

Consta de duas parcelas que permitem a comparação da(s) nova(s) tecnologias, de comprovada eficiência científica, com a(s) tecnologia(s) tradicionais(ex. sementes comum x sementes selecionadas; rebanho com alimentação tradicional x rebanho com ração balanceada,etc.). A parcela representante da tecnologia tradicional permite que os agricultores possam melhor comparar e  avaliar visualmente os efeitos das novas tecnologias, de eficiência comprovada, apresentadas na outra parcela.

 

A dimensão das parcelas deve ser ajustada e representativa da realidade local, permitindo que os agricultores façam uma análise concreta das vantagens econômicas e sociais das tecnologias apresentadas.
Tal qual, na unidade de observação, a seleção dos colaboradores, áreas , lotes e definição das tecnologias, a serem demonstradas, deverão ser executadas em comum acordo entre extensionistas e grupo de agricultores.

 

A aquisição de insumos deverá ser amplamente discutida com os agricultores, podendo ser uma contrapartida da comunidade ou adquirida com outras fontes de recursos, evitando-se que um atraso, na liberação de recursos oficiais, comprometam os resultados econômicos e sociais do instrumento. Para possibilitar uma  análise eficiente de benefício  custo, as despesas e receitas da demonstração de resultados deverão ser convenientemente acompanhadas e  registradas.  A definição das tecnologias, objeto das demonstrações de resultados, deverá, também,  ser feita no dia-a-dia das atividades dos extensionistas(diagnósticos participativos), devendo constar na programação do escritório da Ater e dos  agricultores(PAC).

 

7.3.Unidade Demonstrativa(U.D)

 

A unidade demonstrativa,  chamada também de unidade técnica de demonstração(U.T.D), constitui em uma fase mais avançada da demonstração de resultados, dispensando, portanto, a parcela comparativa, que representa a tecnologia tradicional.

 

Na unidade demonstrativa, o sistema de produção  é  adotado, amplamente, naquela cultura e/ou criação, resultado da decisão individual do agricultor ou do grupo, motivados pela constatação da eficiência dos resultados observados. A unidade demonstrativa causa  maior impacto  aos agricultores, pela maior área explorada, pelo uso das tecnologias em larga escala. Os agricultores(as), colaboradores das unidades demonstrativas, deverão ser selecionados dentre todos aqueles que já adotaram amplamente o sistema de produção da cultura e/ou criação em pauta, levando em conta os critérios de receptividade à Ater, responsabilidade, compromisso, conhecimento técnico e espítito investigativo, além da localização geográfica da propriedade  dentro do município.

 

Na unidade demonstrativa deverá ser feito todo o controle dos custos de produção, sendo todas as despesas cobertas pelo agricultor.
Tal qual é preconizado, nos demais instrumentos metodológicos, a definição das tecnologias, objeto das unidades demonstrativas, deverá ser feita no dia-a-dia das atividades dos extensionistas, devendo constar na programação do escritório da Ater e  dos  agricultores(PACs).  Tendo como base os instrumentos metodológicos, extensionistas e agricultores deverão participar de visitas, reuniões, oficinas, excursões, dias especiais e de campo, além de outros eventos.

 

Por intermédio dos instrumentos metodológicos, os agricultores poderão, usando o construtivismo, definir seus próprios sistemas de produção, convenientemente, testados e ajustados às realidades locais. O fato é que os instrumentos metodológicos em Ater, deverão surgir como busca de opções de solução, para problemas já sentidos pelos grupos de agricultores, com destaque para a definição dos sistemas de produção para a Agricultura Familiar.

 

José Roberto R.Vieira
Engenheiro Agrônomo da Ematerce
Articulador da Rede de Metodologias Participativas
doc. série metodologias participativas 05
17-09-2013