Produtores no Cariri combatem lagarta cartucho com Bioinseticida Bt

19 de fevereiro de 2020 - 22:17 # # #

Aécio Santiago - aecio.santiago@ematerce.ce.gov.br fotos: Aécio Santiago

Produto desenvolvido em fase experimental pelo Laboratório da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo de Minas Gerais com acompanhamento e distribuição da Ematerce, o Bioinseticida Bt já se transformou no principal instrumento de combate á praga da Lagarta Caturcho, que vem invadindo plantações de milho e outras culturas no Estado do Ceará. A equipe de reportagem da Ascom da Ematerce acompanhou por dois dias as dificuldades, os resultados e a realidade em algumas propriedades no Cariri. Abaixo, o uso do produto mostrou-se eficaz no combate da praga em culturas como alface (foto abaixo), tomate-cereja e cebolinha

Quando chegou de Pernambuco para morar em Juazeiro do Norte/CE em 1974, o ex-gerente de fazenda e vaqueiro Pedro Gonçalves da Silva, 67, mais conhecido como Pedim, já dominava as técnicas de inseminação artificial bovina e a pecuária de leite. Com a criação do Condomínio de Produção Familiar Dona Bia, na Zona Rural de Juazeiro do Norte, “Pedim” passou a dominar a prática da horticultura, da produção orgânica com a técnica agroflorestal e mais recentemente o uso do bioinseticida Bt.

O novo conhecimento vem sendo fundamental para o controle de uma praga responsável por muitas perdas na safra do milho este ano.O produto biológico é usado no combate à lagarta do cartucho (foto abaixo a lagarta ataca a plantação de tomate-cereja), praga que ataca a lavoura do milho no estado e nesta safra vem causando prejuízos aos agricultores. Visando reduzir esse dano econômico e direcionar um tratamento adequado e sustentável ao problema, a partir do uso de uma solução concentrada de uma bactéria denominada Bacillus thuringiensis ou apenas Bioinseticida Bt.

Desenvolvido em laboratório da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, Minas Gerais e distribuído sob orientação da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará), o Bt, à base de uma bactéria denominada Bacillus thuringiensis, já vem apresentando ótimos resultados no combate e controle da praga tanto em lavouras de milho como em hortas desde de janeiro de 2020.

Na área de plantio no Condomínio Dona Bia, cerca de seis hectares, já foi possível identificar os efeitos do uso do produto. “Com a lagarta do cartucho, que vai até o talo da folha, em dois ou três dias ela tá morta. Mas é preciso aplicar o Bt logo no início do plantio para não ter risco de perder a colheita”, diz Cícero Gonçalves, outro produtor da região e que atua no condomínio.

Segundo o técnico agrícola da Ematerce Alan Douglas, do Escritório da Ematerce na Regional Crato, as vantagens da aplicação do Bt em relação aos defensivos químicos são muito grandes. Além de zero impacto à natureza e às culturas, porque o Bt é a base de concentrado de uma bactéria, que atua diretamente no sistema digestivo da lagarta destruindo a praga em dois ou três dias no máximo, a solução é facilmente produzida e sua aplicação não precisa de equipamentos de segurança. (Abaixo, a solução em pó que é diluída em água e detergente)

“Infelizmente ainda há uma resistência por parte dos produtores rurais, porque com o defensivo químico ele vê o animal morrer na hora, enquanto com o Bt o veneno atua dentro do animal mais vagarosamente, mas a eficácia é mais limpa para o solo, a planta e o meio ambiente”, explica Alan. A Ematerce realiza a distribuição do Bt juntamente com as sementes do Programa Hora de Plantar, do Governo do Ceará por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário.

Agrofloresta

Na rotina do agricultor João Evangelista, a aplicação do Bt não serve apenas para combater a praga no plantio de milho mas, também, no cultivo de tomate cereja, alface, coentro, cebolinha e outros. No condomínio de produção familiar, o grupo de cerca de 50 famílias atuam em outros polos produtivos como produção de queijo ricota, coalho, manteiga, doce, pão e bolo. Além do uso da tecnologia para o combate à lagarta, os produtores utilizam a técnica de produção agroflorestal, que garante maior sustentabilidade de várias culturas e o melhor aproveitamento do solo. É o caso do plantio consorciado de glicerídeo com mamão, amora, açaí, baobá, achaia. Isso diversifica e descentraliza a produção dos agricultores familiares, garantindo renda durante todo o ano sem depender de bom inverno e outros fatores externos.

Atualmente, os produtores já têm compradores garantidos em feiras e com pequenos e médios empresários e comerciantes; já venderam pra o mercado institucional de merenda escolar e pretendem voltar a este segmento.

Demanda

Desde janeiro de 2020, o Escritório Regional da Ematerce no Crato já distribuiu o total de 1.285 doses do Bt numa área total atingida de 565 hectares em 13 municípios, sendo eles Crato, Farias Brito, Juazeiro do Norte, Caririaçu, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Abaiara, Santana do Cariri, Nova Olinda, Altaneira, Várzea Alegre e Granjeiro. Na região, o trabalho de distribuição é coordenado pelo assessor regional da Ematerce Ernane Rocha.

No total (ver tabela), durante o mês de janeiro de 2017, a SDA distribuiu para os agricultores do Projeto Hora de Plantar, 5.510 doses deste bioinseticida, através da Ematerce para vários regiões. Segundo relatório da secretaria, os municípios atendidos nesta primeria fase são Lavras da Mangabeira, Iguatu, Icó, Acopiara, Crato, Várzea Alegre, Missão Velha, Milagres, Farias Brito, Jardim, Abaiara, Santana do Cariri, Juazeiro do Norte, Nova Olinda, Caririaçu, Crateús, Solonópoles, Quixeramobim, Tauá, Parambu e Quiterianópolis e Aiuaba.

Em 2018 foram distribuídas o total de 971 doses em 11 municípios do Cariri e e quatro da região Centro Sul. Em 2019, foram distribuídas mais 246 doses em 10 municípios do Cariri e em 2020 mais 5.948 doses em 42 municípios das regiões do Cariri, Vale do Jaguaribe, Maciço de Baturité, Metropolitana, Sertão do Crateús, Centro Sul, Inhamuns, Litoral Oeste/Vale do Curu e Serra da Ibiapaba.

Com o objetivo de difundir esta tecnologia e avaliar a eficiência da aplicação deste bioinseticida foram visitados e aplicados questionários aos agricultores destes 22 municípios.

Segundo o professor Marcos Vinícius Assunção, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e assessor da SDA, mais 500 doses devem chegar nos próximos dias para atender a demanda em outros municípios do estado, que é bem maior ainda do que a capacidade de produção do laboratório. “Nessa fase experimental, o produto tem sido um sucesso, apesar da resistência do agricultor que ainda só acredita nos efeitos quando ver a lagarta morta. O veneno biológico atua quando a lagarta tenta comer a planta e se alimenta do Bt, que vai destruir seu sistema digestivo, matando o animal em dois dias aproximadamente. Agora, precisamos trabalhar para disseminar e divulgar essa informação o máximo possível”, destacou Vinícius.

Metodologia

• O Bioinseticida Bt (é um ingrediente ativo, formulação, modo de ação, diluição, equipamentos para aplicação, armazenamento e conservação);
• Formulários de acompanhamento da aplicação do bioinseticida distribuídos aos técnicos da Ematerce;
• Registro de fotos;
• Relação dos pacotes com Bt entregues aos escritórios da Ematerce.

O Estado do Ceará é um dos maiores produtores de milho do Nordeste brasileiro, plantado, principalmente, por agricultores familiares. Somente a Secretaria do Desenvolvimento Agrário-SDA, através do Projeto Hora de Plantar, distribui, em média, 2.600 toneladas de sementes desta cultura, para 182 municípios, anualmente, suficientes para 130.000 hectares.

Alguns dados promissores revelam resultados muito positivos, como no município de Várzea Alegre, onde foram distribuídas 85 doses, para 52 agricultores em 19 locais. O controle da lagarta-do-cartucho neste município tem tido respostas tão significativas que foram designados três técnicos da Ematerce para monitoramento da aplicação em 19 locais. Dos 52 agricultores que usaram o bioinseticida, dois consideraram ótimo e 50 Bom.

• 18,38% consideraram ÓTIMO;
• 75,00 % consideraram BOM;
• 5,14% consideraram REGULAR
• 1,47% consideraram INSUFICIENTE