Ater 5.0 : desafios e oportunidades

26 de janeiro de 2021 - 09:39 # #

aecio.santiago@ematerce.ce.gov.br texto: Nizomar Falcão

O leitor pode conferir o primeiro e os quatro textos da série sobre Ater 5.0, do técnico Nizomar Falcão, pelo link disponível no site, por meio do acesso www.ematerce.ce.gov.br/serviços/artigos-tecnicos

*Nizomar Falcão

Como alternativa complementar à Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) convencional, onde a presença do extensionista junto ao agricultor faz toda a diferença, por conta dos laços afetivos que se constroem na relação, surge um novo modo de fazer Ater, onde os agricultores têm a possibilidade de serem assistidos na modalidade presencial – para atividades coletivas – ou à distância – para orientações técnicas rotineiras e emergenciais. É oportuno colocar que a Ater Virtual ou Ater 5.0 é similar à Educação à Distância (EaD), que é uma modalidade educacional que vem crescendo significativamente em nosso país, como forma alternativa para a formação de jovens e adultos.

Produtor no município de Tabuleiro do Norte (ao centro), que atua com vários tipos de inovações tecnológicas

A Ater 5.0 não rivaliza com a Ater presencial: elas se complementam. Diante do aumento da demanda de Ater pelos agricultores, a Ater 5.0 ou à distância, torna-se uma possibilidade de reinserção dos agricultores no atendimento pela Ematerce, na medida em que a empresa não tem tido condições de atender toda a demanda reprimida, conforme constatado pelo IBGE. Quando abordamos a temática Ater 5.0, precisamos levar em consideração alguns fatores, como o público-alvo que essa modalidade de Ater abrange, tendo como destinatário principal usuários jovens, embora isso, não exclua os adultos.

A sociedade contemporânea é marcada por múltiplas linguagens. Dessa forma, o agricultor passa a dispor de mais uma forma de linguagens para comunicação. Entre as linguagens, ressaltamos essa conhecida computacional, que está se tornando um instrumento preferido para objetivar conceitos e pensamentos, interagir com os outros, encaminhar demandas e se fazer compreender. Em uma sociedade, onde a figura humana está visivelmente sendo substituída pelas facilidades da informação e dos conhecimentos oferecidos, pela informática, torna-se vantajoso dotar os agricultores de capacidades para competir na produção agrícola, apropriando-se dos avanços tecnológicos.

Inovação

Devemos aproveitar esses desenvolvimentos tecnológicos e adequá-los às nossas necessidades, sem esquecer que o núcleo do processo é o indivíduo e as máquinas, são apenas ferramentas. Observamos, todavia, que mesmo tendo o acesso e a possibilidade de valer-se de novas ferramentas científico-tecnológicos, que estão disponíveis para prestação de Ater, a grande maioria dos extensionistas estão inseguros e, portanto, resistentes à inovação técnica. O uso da informática na assistência técnica e extensão rural exige, em especial, um esforço constante do extensionista rural para transformar a simples utilização do computador, tablete ou telefone móvel (ou outros), numa abordagem educacional que favoreça efetivamente o processo de conhecimento aos agricultores. Dessa forma, a interação com os objetos de aprendizagem, o desenvolvimento de seu pensamento hipotético e dedutivo, de sua capacidade de interpretação e análise da realidade tornam-se privilegiados, na medida em que novas estratégias cognitivas dos sujeitos (extensionistas e agricultores) são viabilizadas.

Por outro lado, também, não se pode esperar que o extensionista esteja pronto para o desafio da Ater 5.0, pois eles estão habituados aos livros didáticos, às publicações técnicas, à presença física no campo, entre outras. Além disso, muitas vezes, à escassez de apoio das esferas superiores, lhes permitindo adquirir convicções. Esses aspectos reforçam, com razão, o conceito de que o extensionista sente dificuldades para realizar um trabalho interativo aproveitando as diversas mídias. Alguns motivos das dificuldades de trabalharem com as novas tecnologias de comunicação e informação (TICs), especificamente com os agricultores, é a falta de preparo técnico dos extensionistas.

Sem a devida preparação dos extensionistas, para prestar Ater aos agricultores, com auxílio de ferramentas tecnológicas e, sem uma metodologia adequada, a essa modalidade, os extensionistas acabam por optar atender os agricultores do mesmo modo, que os atende pelo sistema convencional, com o argumento, muitas vezes, de que os agricultores familiares não têm os equipamentos para o acesso às tecnologias ou as não compreendem, como se estes fossem seres de outro mundo. Se aos agricultores não for facultado o acesso a essas ferramentas, estaremos, inegavelmente, excluindo-os digitalmente e de muitas oportunidades.

Existe necessidade de muito investimento em capacitação específica, para que os extensionistas e agricultores, usuários potenciais, possam se familiarizar com os dispositivos digitais. Domínio da tecnologia digital, assim como, o processo de transferência virtual, não é um valor que pode ser adquirido de um dia para o outro, mesmo com altos investimentos financeiros. Há necessidade de tempo para assimilação das informações, geração de conhecimento e adaptação de novas formas de lidar com as TICs.

*Nizomar Falcão é engenheiro agrônomo, Ph.d. e técnico da Geat (Gerência de Apoio Técnico da Ematerce)