Agentes de ATER conhecem experiência de cooperativismo no Piauí

22 de dezembro de 2019 - 19:11 # # #

Ascom / Aécio Santiago - aecio.santiago@ematerce.ce.gov.br - fotos : Aécio Santiago

Representantes de instituições de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) de seis estados nordestinos participaram, na última terça-feira (17), de intercâmbio sobre experiências de cooperativismo nas áreas de ovinocaprinocultura e uso de energia solar em irrigação, no município de Betânia do Piauí/PI.

Conhecer uma experiência bem sucedida de uma cooperativa numa região do semiárido nordestino pode parecer algo simples com um começo de história com dificuldades e o sucesso no final. Mas o caso da Cooperativa dos Produtores e Produtoras Rurais da Chapada do Vale do Rio Itaim (Coovita) é muito mais do que isso. É aprender com os prejuízos, o processo produtivo e seus detalhes e fortalecer o sentido de economia participativa, solidária, de comunidade que trabalha pelo crescimento de todos.

Na foto acima, o produtor Josivan demonstra todo o processo de manejo dos animais, o melhoramento genético de raças mais musculosas com as mais resistentes, a alimentação feita à base de milho e 20% de soja, a melhora do leite das ovelhas a partir desse foco na alimentação, a engorda dos burregos (filhotes) com uma ração balanceada entre outras técnicas.

Essa filosofia consolidou o trabalho quando a cooperativa precisou cobrir um prejuízo de cerca de R$18mil de dois produtores há seis anos. O grupo realizou um bingo, pagou os credores e atualmente, com 42 associados, a cooperativa encerra o ano de 2019 com um resultado líquido de R$2,5 milhões para os sócios, vindo da venda da carcaça de ovinos e caprinos (40mil animais/ano) para a empresa Piauí Frigorífico, no município de Teresina.

A Ascobetânia (Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Município de Betânia do Piauí) conta 21 associações e atua nas áreas da mandiocultura e avicultura.

Os resultados foram apresentados pela presidente da cooperativa e associação Francisca Neri Bida, uma das pioneiras e principais lideranças com o trabalho de associativismo na região. “Com os animais com idade entre seis e oito meses de vida, conseguimos vender, no último mês, 55 carneiros foram vendidos a R$21,00 o quilo, totalizando aproximadamente R$17,3 mil, uma média de três salários para cada produtor”, explica Francisca. (foto acima)

No caso de alguns produtores como Idivan Coelho Damasceno, o governo do Piauí por meio da Secretaria Estadual de Agricultura Familia via Projeto Semiárido, recebeu o curral e o silo. No total, o projeto piloto investiu na base produtiva familiar R$1,358 milhão investidos em 95 centros de manejo, caminhões, 95 silos tipo trincheira, implmentos agrícolas (foto abaixo), reflorestamento além da assistência técnica, atendendo a mais de 136 famílias.

“Diferente de outros projetos que apenas fazer um repasse de recurso ou estrutura sem consultar previamente a comunidade, este foi amplamente discutido e alinhado com os produtores, da escolha da planta, da formação do silo até a aquisição dos tratores para transporte dos animais”, disse Francisca.

Neste projeto 100% é financiado pelo Governo do Piauí com a contrapartida da mão de obra dos trabalhadores rurais. O sucesso do projeto foi tão além da expectativa, que ao final dos investimentos houve uma sobra de rendimento no valor de R$ 83mil, que segundo o produtor Idivan Coelho será destinada para compra de um baú para transporte de carga congelada, duas máquinas de empacotar silagem e um arado para concluir os implementos do trator.

Comercialização

A realidade empolgou técnicos, secretários e agentes de ATER de Alagoas, Sergipe, Piauí, Ceará, Pernambuco e Maranhão, que integraram a visita de intercâmbio realizada em Betânia do Piauí. O evento foi promovido pelo Instituto Emater (PI), parceria com o Projeto Viva o Semiárido e Secretaria Estadual da Agricultura Familiar (SAF/PI) e do Instituto Federal de Educação, campus de Paulistana (IFPI).

Um dos próximos mercados a ser conquistado é o das compras governamentais, segundo um dos diretores da cooperativa. As negociações com a Prefeitura de Betânia para o fornecimento de carne ovina na merende escolar já estão adiantadas. A reunião de apresentação das atividades da cooperativa, com a participação de cerca de 40 agentes de ATER, entre eles o presidente e o diretor técnico da Ematerce Antônio Amorim e Itamar Lemos, respectivamente.

Além da cooperativa, os produtores estão organizados na Ascobetânia (Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Município de Betânia do Piauí).

Oportunidades

Além de fortalecer o sentido de economia participativa e colaborativa, os produtores cada vez se identificam com o sentimento de pertença do projeto. “Vocês acham que este projeto é do governo ou da comunidade?”, indagou um dos técnicos de Ater para depois questionar e sugerir que os agricultores pensem no projeto como da comunidade, se empoderando da terra e dos resultados que ela traz pra ele e sua família.

Nos próximos dias, a cooperativa receberá visita de técnicos da Colômbia e representantes da Coovita já estiveram participando de intercâmbio em países como África e Portugal, além dos estados de Sergipe, Pernambuco, Brasília e São Paulo. “Hoje podemos dizer que conseguimos nossa independência de governo, de projetos. Podemos andar com nossas próprias pernas e essa autonomia é muito importante para continuidade dos trabalhos”, sinaliza Francisca.

Para o presidente da Ematerce Antônio Amorim, conhecer a experiência da cooperativa e de comercialização dos produtores em Betânia é muito gratificante. “Eles se organizaram de maneira muito coletiva e forte, vem aprimorando o processo produtivo e de comercialização. A tendência, com o aperfeiçoamento de venda, do aproveitamento do produto, é ganhar mais mercado”, acentua Amorim.

Depois de fazer um intercâmbio com produtores no estado da Paraíba, o diretor técnico Itamar Lemos ainda reforçou a importância de aproveitar melhor tudo na ovinocaprinocultura. “Nessa cooperativa há um aproveitamento de praticamente 100% de tudo que vem do ovino e caprino, do couro transformando em curtume e depois em utensílios como bolsas, chapéus, chaveiros, além das vísceras do animal que também é aproveitada na culinária”, destacou Itamar.

Segundo o diretor técnico da Anater Benjamin Gomes Maranhão Neto e a presidente da Ageper (Agência Estadual de Pesquisa, Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão Loroana Santana, a visita para o intercâmbio à cooperativa visa ampliar e consolidar a Rota do Cordeiro, uma das metas definidas em encontros na Anater (Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural) e Asbraer. “Esse é um compromisso da Asbraer, melhorar e incrementar a produção e comercialização do setor, aumentando as oportunidades para toda a cadeia produtiva, principalmente para os produtores familiares.