Ematerce apresenta resultado de projeto de Convivência com o Semiárido em Irauçuba

12 de julho de 2019 - 16:45 # #

Ascom /Aécio Santiago - aecio.santiago@ematerce.ce.gov.br

Em encontro com técnicos e produtores na zona rural do município de Irauçuba, o grupo da Geat (Gerência de Apoio Técnico) da Ematerce Regional Norte, coordenou visita a agricultores familiares que receberam assistência técnica pelo Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Assentamento Mandacaru com a Integração de Tecnologias de Convivência com o Semiárido e preservação dos Recursos Naturais, num valor total de R$ 641.749,91, sendo R$ 577.574,92 repassados pelo Fundo Nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e contra partida do Estado no valor de R$ 64.174,99 (fotos: Edilmo Gurgel e arquivo Ematerce)

“Depois que o doutor falou umas coisas lá, me perguntaram de onde eu era. Quando falei Irauçuba, chegaram a perguntar se a gente comia pedra lá”, disse sorrindo o produtor rural e presidente da Associação dos Agricultores do Assentamento Mandacaru, zona rural de Irauçuba, Região Norte do Estado José Marcelino Ferreira Pedrosa, 75 anos (foto abaixo/esquerda), que integra junto com mais 96 associados o trabalho que vem sendo desenvolvido por técnicos da Ematerce há cerca de 10 anos.

O depoimento do agricultor “Acelino” como é mais conhecido na região, é o retrato ainda da ignorância e do preconceito de muitos doutores com as regiões mais secas e desfavorecidas de boas chuvas, como é o caso do município de Irauçuba, que ficou conhecido como um solo de muita pedra e pouca produtividade. O evento onde aconteceu este diálogo era um encontro de especialistas na área de várias parte do país e de outros países, em Pernambuco, que reunia produtores e doutores da área do meio ambiente e agricultura.

A visita dos técnicos da Ematerce e a apresentação de alguns resultados do projeto de Convivência com o Semiárido, no entanto, mostram que o solo pode até ser desfavorável, mas com o engajamento da comunidade e um bom acompanhamento técnico, é possível reverter o quadro de desolação para o de produção e esperança.

É o que foi identificado, na última terça-feira (9), numa área de seis hectares do assentamento do Incra, antes degradada onde, segundo técnico e engenheiro agrônomo da Ematerce Josualdo Alves, não nascia nem Jurema, planta da família das leguminosas, comum no Nordeste brasileiro e que exerce importante função ecológica por abrigar espécies de bactérias nitrificantes ou seja que fixam nitrogênio, essencial para a vida, no solo.

O projeto será desenvolvido na área de domínio da microbacia do riacho Mandacaru, abrangendo a área do Assentamento Mandacaru, município de Irauçuba, distrito sede.

Participaram da visita técnicos dos Núcleos de Irradiação Tecnológicas (NIT´s) dos municípios de Sobral, Itapajé, com Fernando Araújo, Francisco Wellington Vieira, lideranças da comunidade São Domingos, Coreaú, Boa Vista e Forquilha, Zilval Fonteles e Inocência da Regional Ematerce Sobral.

Depois da apresentação técnica do projeto na sede da paróquia Santo Expedito, o grupo foi conhecer as experiências do projeto.

Recuperação do solo

Com o trabalho de barragem de contenção de sedimento e a instalação dos cordões de pedra (ver foto acima), foi possível promover a recuperação do solo, que agora abriga mais nutriente e passou a receber nova vegetação, a partir da infiltração e armazenamento da água no solo. Na foto abaixo, observa-se nitidamente como a vegetação e o solo recuperaram-se com a técnica do Inóculo de Serrapilheira, que consiste na atuação em área da caatinga pouco antropizada, em cujo conteúdo, estão presentes sementes e propágulos vegetativos de ervas, arbusto e árvores, além de bactérias, fungos, algas, protozoários, vermes, insetos, ácaros e de outras espécies que vivem no solo, que vai propiciar o desenvolvimento da atividade microbiana do solo e repovoar a área com plantas superiores.

 

Segundo Josualdo, a barragem de contenção evita a entrada de dejetos e assoreamento nos açudes quando chove e revitaliza o solo, permitindo até, futuramente, o plantio de palma. “Como é preciso um tempo pra recuperação dessa área por conta de muitos anos sem um tratamento e em processo de desertificação, ainda é necessário esperar até planejar o plantio da palma e até de outras espécies com o glicerídia. Mas é perfeitamente possível sim”, explicou Josualdo, detalhando todo o trabalho e o esforço que foram realizados junto às lideranças, comunidades, gestores e financiadores para apostar nessa atividade de longo prazo.

Cordões de Pedras

Prática conduzida para segmentar o comprimento de rampa, indu¬zindo a diminuição do volume e velocidade das enxurradas. Os cordões de pedras forçam a deposi¬ção de sedimentos, induz o aumento da profundidade efetiva, a infiltração e armazenamento da água no solo. Das 685 barragens possíveis realizar o projeto, ficou 85 barragens de proteção de sedimento. (foto abaixo)

O sucesso da ação possibilitou ampliar o projeto para núcleos produtivos com avicultura, apicultura e ovinocaprinocultura. Produtores como José Orcélio da Silva Costa, 39, receberam 25 matrizes e 1 reprodutor da raça Morada Nova. Depois da capacitação na Ematerce, passaram a realizar o manejo animal, a produção de silagem. “Já deu certo fazer a silagem com restos vegetais, catingueira, palha do feijão e tô animado com o resultado”, disse Orcélio (foto abaixo). No total, foram beneficiados 25 produtores da região.

Logo em seguida, a visita percorreu o núcleo produtivo de avicultura e a Casa de Mel. Apesar de seis anos consecutivos de estiagem, alguns produtores já conseguem extrair 50 litros de mel/mês, comercializando o litro a R$20,00.

Metodologia

Além de difundir práticas de convivência com o Semiárido, a metodologia apresentada pelo projeto será desenvolvida buscando a participação coletiva para realização das intervenções propostas no plano, e tomada de decisões.

Portanto será realizada uma ampla articulação convocatória junto aos interessados, comitê de bacia, comitês municipais, representações dos agricultores e beneficiários, prefeitura municipal, atores com efetiva participação na discussão de propostas que integram as atividades e intervenções contempladas no projeto, na microbacia hidrográfica do riacho Mandacaru.

Esses mesmos atores serão os responsáveis diretos, pela avaliação sistemática e evolução das ações desenvolvidas e processos, no âmbito das microbacia.

As intervenções proposta serão conduzidas tendo como foco a sustentabilidade ambiental, aplicadas conforme descrição de cada componente técnico, observando o período de melhor oportunidade de execução.

Recentemente, o reconhecimento desse trabalho aconteceu recentemente em Brasília, quando aconteceu a indicação das melhores práticas de preservação do meio ambiente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). De 27 organizações, o projeto da Ematerce era o único do Nordeste.

fotos: Edilmo Gurgel e arquivo Ematerce